Tradução: Valéria Giannella
Revisão da Tradução: Alan Boccato
Um copo de iogurte produzido industrialmente e adquirido através dos canais convencionais de comercialização percorre de 1.900 a 2.400 Km para chegar a mesa dos consumidores, custa em média 10 euros por litro, necessita de recipientes de plástico e embalagens de papelão e, muitas vezes, sofre um tratamento de conservação que elimina as bactérias que formam o iogurte.
O iogurte auto-produzido pela fermentação do leite com colônias bacterianas adequadas não necessitam ser transportados, não exigem acondicionamento e embalagem, custa o mesmo preço do leite, não tem conservantes e é rica em bactérias benéficas à saúde humana.
O iogurte auto-produzido é muito superior em qualidade ao que é produzido industrialmente, custa muito menos, não envolve o consumo de combustíveis fósseis e, portanto, ajuda a reduzir as emissões de CO2, além de não produzir outros resíduos.
No entanto, esta escolha que melhora a qualidade de vida de quem auto-produz e não gera impactos ambientais, envolve uma diminuição do PIB (decrescimento), porque o iogurte auto-produzido não passa pela mediação do dinheiro, reduz a demanda por mercadorias, não requer combustível e ainda gera os custos de eliminação de resíduos dos processos produtivos.
Isso perturba os ministros das finanças, pois reduz a receita do imposto sobre valor agregado e dos impostos especiais de consumo sobre os combustíveis; os ministros do meio ambiente porque como resultado são reduzidas as dotações dos respectivos orçamentos, não podendo mais subsidiar fontes alternativas de energia na perspectiva do “desenvolvimento sustentável”; incomoda os prefeitos e governadores, porque eles não poderão distribuir aos seus eleitores os subsídios do governo para fontes alternativas; as empresas municipais e consórcios de gestão de resíduos, pois estes diminuem as receitas dos aterros e incineradores; os gestores de incineradores ligados às redes de aquecimento urbano, porque eles têm de substituir a falta de combustível derivado dos resíduos por óleo diesel (que devem comprar).
Mas não é só isso.
Os fermentos láticos contidos no iogurte auto-produzido vão melhorar a flora intestinal dos que o comem o que resultará em mais facilidade em evacuar. Pessoas sem prisão de ventre poderão começar o dia leves como libélulas. Portanto, melhora a qualidade de suas vidas e sua renda tem um benefício adicional, porque já não têm de comprar laxantes. Mas isso resulta em uma diminuição da demanda por bens e diminui o PIB. Mesmo laxantes produzidos industrialmente e adquiridos através dos canais de comercialização convencionais, para chegarem às casas dos consumidores viajam milhares de quilômetros. A diminuição da sua ingestão também deve implicar uma redução no consumo de combustível e uma redução ainda maior no PIB.
Isto perturba pela segunda vez os ministros das finanças e do ambiente, prefeitos, presidentes da região e da província, pelos motivos já mencionados.
Mas não é só isso.
A redução de resíduos sólidos produzidos e da procura de iogurte e purgantes produzidos industrialmente resulta em uma redução do movimento de caminhões que transportavam esses bens, causando assim uma maior fluidez do trânsito nas estradas e auto-estradas. Os demais veículos podem viajar mais rapidamente o que reduz o entupimento. Melhorando a qualidade de vida. Mas também reduz o consumo de combustível e, portanto, o PIB.
Isso perturba pela terceira vez que os ministros das finanças e do ambiente, prefeitos, presidentes da região e da província, pelos motivos já mencionados.
Mas não é só isso.
A diminuição dos caminhões rodando nas estradas e rodovias estatisticamente diminui o risco de acidentes. Esta melhoria da qualidade de vida causada pela substituição de iogurte produzido industrialmente com iogurte auto-produzido, acarreta ainda redução do PIB, diminuindo tanto os custos hospitalares, os farmacêuticos e dos necrotérios, como os custos de concertos de carros batidos e reduz a compra de veículos novos para substituir aqueles não mais utilizáveis.
Isso perturba pela quarta vez que os ministros das finanças e do ambiente, prefeitos, presidentes da região e da província, pelos motivos já mencionados.
O Movimento para o Decrescimento Feliz visa promover a maior substituição possível de bens industrializados e adquiridos em circuitos comerciais de grande escala, com bens oriundos de auto-produção de mercadorias ou produzidos localmente. Nessa escolha, que implica numa redução do PIB, identifica uma possibilidade de melhora dramática na vida individual e coletiva, nas condições ambientais e nas relações entre os povos, estados e culturas.
Sua perspectiva é oposta à do "desenvolvimento sustentável", que continua a considerar positivo o mecanismo de crescimento econômico como um fator de bem-estar e se limita a propor para corrigi-lo a introdução de tecnologias mais limpas esperando por uma extensão, com estas correções, aos povos que, não por acaso, são chamados de "subdesenvolvidos".
Na área crucial da energia, o "desenvolvimento sustentável", a partir da avaliação que os combustíveis fósseis não são mais capazes de apoiar um crescimento sustentável e uma extensão em nível global do desenvolvimento, propõe a substituição por fontes alternativas. O Movimento para o Decrescimento Feliz preconiza que esta substituição deve acontecer através de uma redução do consumo de energia, a ser perseguido tanto pela eliminação da ineficiência, desperdício e mau uso, tanto pela eliminação do consumo induzido pela organização econômica e produtiva (do capitalismo), que estimula a substituição de mercadorias auto-produzidas pela produção industrializada e a comercialização de mercadorias em circuitos de grande escala.
Esta perspectiva implica que nos países industrializados se redescubram e valorizem os estilos de vida do passado, irresponsavelmente abandonados em nome de uma concepção equivocada de progresso, mas que têm amplas perspectivas para o futuro, não só nas áreas tradicionais de necessidades básicas, mas também em algumas áreas tecnologicamente avançadas que são cruciais para o futuro da humanidade, como a energia, onde a maior eficiência e menor impacto ambiental são atingidos com os sistemas de geração de energia na rede para trocar o excedente.
Nos países que se tornaram carentes pelo roubo sistemático de seus recursos naturais que são necessários para o crescimento econômico dos países industrializados, o aumento real e duradouro na qualidade de vida não poderá ser obtido pela reprodução do modelo dos países industrializados, pela substituição gradual de mercadorias de produção própria por bens produzidos industrialmente e adquiridos comercialmente. A redistribuição mais eqüitativa dos recursos do mundo não pode ocorrer se o bem-estar destas pessoas for na forma de crescimento do PIB, mesmo que tenha sido atenuada pelas medidas corretivas do "desenvolvimento sustentável". Este último é, aliás, um luxo a disposição apenas daqueles que já tiveram acesso de forma ilimitada a um desenvolvimento sem adjetivos.
Para aderir ao movimento só precisa:
- Auto-produzir o iogurte ou qualquer outro produto primário: o molho de tomate, geléia, pão, suco de frutas, bolos, calor e eletricidade, objetos e ferramentas, manutenção corrente;
- Prestar serviços para as pessoas que geralmente são delegadas a pagar: acolhimento de crianças nos primeiros anos de idade, os idosos e os deficientes, os doentes e moribundos.
A auto-produção de mercadorias ou a prestação sistemática de um serviço é o primeiro exemplo do primeiro nível de adesão. Todos os níveis abaixo do primeiro grau são proporcionais ao número de bens de produção própria e os serviços prestados à pessoa. A auto-energia vale o dobro.
O segundo grau é da auto-produção da cadeia de fornecimento de bens, a partir do leite para o iogurte, a partir de trigo para pão, da fruta à marmelada, do tomate ao molho, o uso da madeira para o aquecimento. Os níveis de segundo grau são proporcionais ao número de bens de produção própria e da cadeia de fornecimento de energia que vale o dobro.
A sede do Movimento para a Decrescimento Felice fica estabelecido em ... (de preferência uma fazenda ou uma oficina, ou uma empresa auto-gerida, ou de economia solidária, ou uma cooperativa, uma loja de comércio justo, etc).
Traduzido do Original: Manifesto del Movimento per la Decrescita Felice
Disponível em: http://www.unmondopossibile.net/articolo/art0076.htm
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