Decrescimento: perguntas e repostas

Por Fernanda Cornils*

Confira algumas questões respondidas sobre o decrescimento por autores e membros da Rede Brasileira pelo Decrescimento Sustentável:

 

 




Porque o decrescimento é algo importante na contemporaneidade?
“O decrescimento é importante, pois faz frente ao discurso hegemônico do economicismo da sociedade contemporânea, onde praticamente a totalidade da existência, das relações e da simbologia humana estão mediadas por relações econômicas mercantis. O decrescimento propõe o reestabelecimento de outras relações, como a co-produção, a solidariedade, o cuidado, a troca não monetária e a cooperação entre os seres-humanos como forma de organização socioeconômica.” Allan Boccato

Decrescimento: utopia ou realidade?
“O projeto de decrescimento é, portanto uma utopia, ou seja, uma fonte de esperança ou sonho. Todavia, longe de se refugiar no irreal, tenta explorar as possibilidades objetivas de sua aplicação, daí o qualificativo “utopia concreta”…” Serge Latouche

“Progressivamente, amplos setores da sociedade planetária estão percebendo que a o crescimento econômico ilimitado e a desmesurada expansão do progresso material não é realizável, nem tampouco desejável. Assim, frente à crise civilizadora engendrada pelo desenvolvimento moderno, o decrescimento deverá sobressair como alternativa necessária ao enfrentamento dos desafios sociais e ambientais existentes no tempo presente.” Carlos Alberto Pereira

 Implantação e impedimentos
“Não existe impedimento maior que o conformismo e a resistência. Ora, quem mais precisa tomar uma atitude são normalmente aqueles que não veem interesse em se mexer. Estes, que vão formar a ‘resistência’ carregando o caminho de “obstáculos intransponíveis”, são geralmente os que têm maiores e melhores condições de promover as mudanças, mas são justamente os que fazem a manutenção dos mecanismos através dos quais o sistema econômico gira. Um destes mecanismos é voltado para a geração de “zonas de conforto”. Estas, agem sobre o resto da população, acalmando os ânimos, desencorajando as atitudes, alejando a criatividade.”  Mildred Delambre

“Também constitui-se num grande obstáculo o imenso domínio exercido pelas poderosas corporações capitalistas que, ao terem como objetivo central a perpetuação do desenvolvimento,  colocam-se avessas às necessárias transformações exigidas pelo mundo.” Carlos Alberto Pereira

 Necessário X Supérfluo: como definir?
“Voltamos ao assunto das prioridades e do caminho para alcançá-las. Pessoalmente, tudo aquilo sem o quê minha vida seria penosa, considero necessário. Por conseguinte, tudo aquilo sem o quê minha vida teria aproximadamente o mesmo nível de conforto, considero supérfluo. Um exemplo é a mobilidade: diariamente tenho que me movimentar num raio de 15 quilometros partindo da minha casa. Para essas distâncias, uso a bicicleta. Ela é altamente necessária para que eu não perca tempo, para que eu possa praticar ao menos uma atividade física regular e para que eu possa transportar pequenos objetos e minhas compras. Um carro é, nesse caso, altamente supérfluo e ainda prejudicial.” Mildred Delambre

“A maior proposta do Decrescimento é que os “pobres” e os países subdesenvolvidos não repitam os erros e os atuais padrões de consumo, sejam de riquezas monetárias, sejam de recursos naturais, que os “ricos” e os países desenvolvidos adotaram durante a história recente. O ideal seria viabilizar o consumo com baixo ou nulo impacto ambiental, utilizando tecnologia local, adaptada e desenvolvida para as peculiaridades e necessidades de comunidades específicas, sejam elas de países desenvolvidos ou não.” Edson Franco

“O que deve sempre aumentar é o crescimento imaterial, da formação e educação de pessoas, o convívio é também algo extremamente importante. Antigamente as pessoas conversavam nas calçadas e hoje não podem perder tempo. A mudança de atitude não fez com que estejam mais felizes. Um dos pontos mais importantes do decrescimento é o convival.” João Luiz Homem de Carvalho

Decrescimento e crise econômica
 “Recessão, retração e estagnação econômica são palavras vinculadas ao universo desenvolvimentista. Portanto, só podemos acolhê-las, como portadoras de explicações plausíveis para as mutações em curso nos países materialmente desenvolvidos, se continuarmos insistindo na inócua crença de que só existem soluções para os problemas sociais com a manutenção da lógica fundada no crescimento econômico. Possivelmente, se formos capazes de redirecionar o nosso olhar, veremos que o aumento do desemprego resulta da existência da concentração de riquezas nas mãos de uma minoria opulenta. Com isso, eu estou dizendo que a realização da proposta do decrescimento, ao indicar a necessidade da redistribuição dos bens socialmente produzidos, certamente contribuirá para resolver, dentre outros, o problema do desemprego.  Em consonância com um dos objetivos do decrescimento que é “trabalhar menos para viver melhor”, a redistribuição pode ser iniciada com uma substancial redução da jornada de trabalho.”  Carlos Alberto Pereira

Conheça os coordenadores da rede:
Alan Boccato
Analista Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, articulador da RBDS e Mestrando do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília, CDS – UNB, atualmente escrevendo dissertação sobre Decrescimento.

Carlos Alberto Pereira Silva
Professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, coordenador do Laboratório Transdisciplinar de Estudos em Complexidade.
Edson Franco                                     
Economista e co-moderador do Grupo Decrescimento e da RBDS.
João Luiz Homem de Carvalho            
Professor da UnB, co organizador, juntamente com o senador Cristovam Buarque, das audiências públicas de acompanhamento permanente da Rio +20, onde colocou em pauta o tema decrescimento. Esteve na Conferência do Decrescimento das Américas, realizada no Canadá entre 13 e 19 de Junho de 2012.
Mildred Gustack Delambre
Idealizadora do Projeto Nova Oikos, de promoção da permacultura e do Decrescimento. novaoikos.wordpress.com


*Fernanda Cornils é mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela UFPE, aluna especial do doutorado no Centro de Desenvolvimento Sustentável -CDS da UnB e jornalista.

Fonte: http://www.cristovam.org.br/rio20/

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