Decrescimento pode sim desacelerar destruição de meio ambiente

A teoria do "decrescimento econômico" é um caminho para a preservação do meio ambiente?

SIM
por João Luís Homem de Carvalho

Segundo diversos estudiosos sobre o assunto, a ideia de decrescimento tem conexão com a prática sociopolítica. Ela se define como um programa político sem receitas próprias para a construção de alternativas à sociedade do crescimento. Apresenta-se como um caminho, um horizonte aglutinador diante da impossibilidade física do crescimento permanente e da insustentabilidade do nosso atual modelo de desenvolvimento.
  Serge Latouche ressalta que o decrescimento é a bandeira de um projeto alternativo para uma política do pós-desenvolvimento. Segundo ele, o decrescimento é, em primeiro lugar, um slogan para provocar e permitir o entendimento de que um crescimento ilimitado não é possível em um mundo com recursos limitados.

O termo decrescimento simboliza a necessidade de ruptura. Uma ruptura integral na qual não é possível aceitar conceitos como “crescimento verde” ou “desenvolvimento sustentável”. Decrescimento significa o abandono da meta do crescimento pelo crescimento.

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Quase 2 bilhões de toneladas de CO2  são emitidas por automóveis anualmente, em escala mundial


Quando 20% da população mundial consomem 86% dos recursos naturais, podemos dizer que para os 80% consumirem mais, para terem uma vida digna, os 20% têm de decrescer seu consumo. Por isso, a proposta do decrescimento não é para todos os lugares e nem para todos. O decrescimento deve ser necessariamente equitativo e seletivo. Os primeiros que têm muito a ganhar com essa proposta são os mais pobres. A primeira meta do decrescimento é o decrescimento das desigualdades.
Uma das formas de implantá-lo seria seguir, segundo Serge Latouche, os oito R’s: Redistribuir; Reduzir, Reutilizar, Reciclar, Recontextualizar, Reavaliar, Reestruturar e Relocalizar. Mostramos a seguir a aplicação prática de alguns desses R’s.

Imaginemos, numa escala de 100 pontos, o que gastaria mais recursos naturais de maneira grave. Elegeríamos os quatro principais impactos ao meio ambiente.

O primeiro impacto representaria 40 pontos na escala: o consumo pelo transporte de veículos individuais, o automóvel. O carro está contribuindo para a destruição do planeta: pela emissão de grande quantidade de CO2 (gás carbônico), pelo desperdício de recursos naturais, por ceifar a vida de milhões de pessoas e por subtrair imensa área de terra produtiva em favor da exorbitante quantidade de automóveis. Há no mundo, aproximadamente, 1,3 bilhão de automóveis. São produzidos 70 milhões por ano, 192 mil por dia e 133 por minuto. Podem-se estimar as emissões de CO2 pelos automóveis, em escala mundial, de aproximadamente dois bilhões de toneladas por ano.
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Produção e distribuição de alimentos são um dos pontos que consomem mais recursos naturais, como água e energia

Esses dados demonstram a irracionalidade de incentivar, cada vez mais, o uso massivo do automóvel individual, em detrimento do transporte coletivo e da preservação da vida no planeta. Teríamos que reavaliar a utilização do automóvel, reduzir sua utilização e aumentar os meios de transporte de massas e alternativos, como a bicicleta.

O segundo impacto é a climatização (ar-condicionado e aquecedores ambientais). Em nossa escala, esta representaria de 25 pontos. A redução de somente 2 ºC no ar-condicionado ou no aquecimento significaria gastar a metade do que se consome no mundo para fazer funcionar esses aparelhos. A climatização proporciona impacto energético e impacto de efeito estufa pelos gases que emite. Só com a redução de 2ºC, teríamos uma queda significativa  nas emissões de CO2.

O terceiro impacto é a hiperdistribuição alimentar, que representa 20 pontos em nossa escala. A produção e a distribuição de alimentos são, sem dúvida, um dos pontos que consomem mais recursos naturais por empregar, cada vez mais, energia e água disponível. Em relação à pecuária, por exemplo, é negativamente exemplar o Brasil produzir soja para alimentar o rebanho bovino europeu do outro lado do oceano. Do arroz consumido em todo o território brasileiro, 68% são produzidos no Rio Grande do Sul. Nesse caso propomos relocalizar, que significa produzir localmente, no que for essencial, os produtos destinados à satisfação das necessidades da população.

O quarto impacto é o sistema da indústria da obsolescência, com 15 pontos. Ela é considerada o motor do consumismo e fundamental para o crescimento do consumo.  A obsolescência é dividida em três grupos: obsolescência técnica ou funcional, obsolescência perceptiva e obsolescência planejada. Para pouparmos o meio ambiente, propomos reduzir, reutilizar e reciclar. Trata-se, inicialmente, de limitar o consumo excessivo e o incrível desperdício: 80% dos bens postos no mercado são usados uma única vez, antes de irem para a lata de lixo.

Entretanto, por mais claro e lógico sejam os exemplos e por mais que estejamos de acordo com as propostas, elas só poderão ser implementadas no âmbito de uma sociedade do decrescimento, que um dia acontecerá por força de uma crise ecológica cada vez mais grave.


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(*)João Luís Homem de Carvalho é professor, doutor, leciona no CEAM - Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares - da Universidade de Brasília, onde ministra as disciplinas Agricultura Alternativa e Decrescimento.

Fonte: Opera Mundi 

Um comentário:

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