Alan Boccato
Novamente movimentos sociais, ong´s ambientalistas, formadores de opinião, redes sociais, organizadores de petições on-line e outros setores da sociedade levantam-se para protestar contra o Complexo Hidroelétrico de Belo Monte que será implementado no rio Xingú. Repete-se assim o que já se tornou rotina no Brasil: se mobilizar ao redor de consequências e não atacar as causas que tornam necessários esses grandes empreendimentos altamente destruidores do ambiente e da sociedade.
É fundamental considerar que o Complexo de Belo Monte, assim como as demais hidroelétricas (recordemos do Complexo de Jirau no Rio Madeira e da Barragem de Estreito no Rio Tocantins) estão sendo construídas para aumentar o aporte energético brasileiro para abastecimento dos lares dos brasileiros, mas acima de tudo para viabilizar a expansão industrial brasileira, principalmente a industria siderúrgica, cimenteira e metalúrgica. Assim, teremos garantidos os Kws suficientes para que as industrias continuem produzindo mais, que os empregos continuem sendo gerados, que a renda e o consumo continuem aumentando para que o pais siga sua rota de crescimento econômico ilimitado rumo ao posto da mais nova potência econômica mundial.
Esta velha fórmula “produção + consumo = crescimento” como única estratégia do modelo capitalista para promover o “desenvolvimento” de um pais é a verdadeira causa de Belo Monte e dos demais mega-empreendimentos como o Complexo Carajás, os monocultivos com fertilizantes, agrotóxicos e transgênicos, a exploração do pré-sal, as usinas nucleares etc. Os impactos negativos como a perda da biodiversidade, a expropriação e degradação dos territórios dos povos indígenas, comunidades tradicionais e dos agricultores familiares, o envenenamento das águas e do ar, a perda de solos e tantos outros são apenas externalidades do modelo capitalista em que o crescimento econômico é a meta e o consumismo seu instrumento.
Entretanto, no Brasil são raríssimos os grupos sociais que fazem resistência e propõem alternativas a essa estrutura de economia e de sociedade que está nos levando a bancarrota. Ora, qual o sentido de protestar contra Belo Monte, que é apenas uma consequência, e não protestar contra o sistema econômico que tem o aumento ilimitado do consumo como condição vital? Por que as ong´s ambientalistas, movimentos sociais e setores organizados da sociedade que estão a protestar contra Belo Monte não emitem qualquer manifestação pública contra o modelo de desenvolvimento econômico capitalista de mercado que demanda cada vez mais energia para produzir suas mercadorias e portanto demandar cada vez mais usinas hidroelétricas?
Temos que quebrar com urgência a lógica que impera na maior parte dos movimentos sociais e ong´s brasileiras de olhar apenas para o seu objeto de luta que não passam de meras consequências. Temos de avançar para outra dimensão de debate, mobilização, proposição e ação de modo a enfrentar a real causa dos problemas que vivemos. Nossos movimentos sociais, ong´s, redes sociais e demais setores da sociedade devem com urgência convergir suas ações para iniciarmos uma grande transformação de sistema, sem o qual continuaremos eternamente protestando contra os sintomas sem resolvermos nossa doença: a necessidade de crescimento econômico ilimitado sustentado pelo consumismo.
Excelente artigo Alan!!!
ResponderExcluirUm dos poucos movimentos que conheço que combate as causas, é prout, que é uma proposta de sistema socio economico.
Vamos juntar forças!
abs
Denise
No começo dessa dissertação ( 2º paragrafo ) confesso que me deu vontade de quebrar o monitor... mas resisti ao meu "eu-feral". Compreendi a opinião do amigo, concordo plenamente com o proposto. Isso é bem coisa de brasileiro: quer combater a "gripe" se esquecendo de combater o "vírus".
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